Diante da meta do Ministério da Educação brasileiro de alcançar, em 2030, o percentual de 80% de escolares decodificando no final do 2º ano do Ensino Fundamental, naturalmente surgem perguntas: É possível acelerar o lento percurso de melhora da educação brasileira? O que pode ser feito no âmbito das gestões municipais de ensino para que a meta seja atingida?
Está claro que a alfabetização envolve um complexo conjunto de variáveis, tanto sociais quanto cognitivo-orgânicas, mas, sobretudo, pedagógicas. A proficiência nos usos sociais da leitura e da escrita é o elemento cultural mais complexo que precisamos aprender para a vida em sociedade contemporânea. O enfrentamento de uma questão complexa deve ser igualmente complexo; com o chamado problema da alfabetização não é diferente.
Com base em experiências bem-sucedidas na alfabetização de crianças, tanto em alguns lugares no Brasil quanto em países com sistemas alfabéticos de escrita, mas, sobretudo, com base na literatura científica documentada acerca do aprendizado de sistemas alfabéticos por crianças, duas ações devem ser efetivadas nas gestões municipais de ensino para que a alfabetização ocorra no tempo esperado:
a) monitoramento regular da aprendizagem das crianças, pois, entre outros aspectos, por meio dos resultados dos escolares pode-se mais facilmente e de forma precoce identificar problemas para corrigi-los;
b) adoção de um programa consistente de formação docente continuada, baseada nestes conhecimentos: como o aluno aprende; práticas metodológicas cientificamente respaldadas para apresentar as relações entre fala e escrita; organização e funcionamento da modalidade escrita da língua, objeto daquilo que se ensina; por fim, aprendizado nas atipias.
Essas duas ações certamente contribuirão para práticas pedagógicas em três frentes: Educação Infantil, classes de alfabetização e enfrentamento do atraso escolar.
Educação Infantil
A Educação Infantil é o nível da educação formal em que, por meio dos eixos da brincadeira e da interação previstos na BNCC, as práticas pedagógicas devem preparar os escolares para a alfabetização ulterior. Caso algum escolar não tenha desenvolvido suficientemente competências basilares para a alfabetização, esse escolar não conseguirá se alfabetizar, mesmo com práticas pedagógicas adequadas de apresentação do sistema de escrita.
Classes de alfabetização
A partir do 1º ano do Ensino Fundamental, é imperativa a apresentação adequada do sistema de escrita. No atual estado do conhecimento acerca desse aspecto, o conhecimento das relações entre letras e seus valores sonoros deve ser apresentado diretamente, de maneira ordenada, no contexto de gêneros textuais com os quais a criança convive. Nas palavras de Magda Soares, é alfabetizar em contexto de letramento. Esse parece ser um bom caminho, pois contempla as diferentes facetas que envolvem a alfabetização, inclusive a faceta fônica, nível de linguagem falada que a escrita representa.
Enfrentamento de casos com atraso escolar
Todos aprendemos as diversas coisas da vida em ritmos diferentes, inclusive a alfabetização. Há escolares que chegam ao 1º ano quase alfabetizados. Há os que se alfabetizam nos primeiros meses. Há os que, dia após dia, embora se esforcem, não conseguem evoluir no conhecimento alfabético. Esses devem receber uma atenção individualizada por parte dos gestores de sua aprendizagem. Essa atenção deve, necessariamente, envolver o monitoramento da aprendizagem, bem como um planejamento individualizado com um conjunto de estratégias voltadas ao ambiente escolar e familiar.
Nas próximas postagens, vou desenvolver cada um dos tópicos acima.
Estou seguro de que, se esse conjunto de ações de enfrentamento ocorrer, com monitoramento da aprendizagem e com corpo docente preparado para adotar as práticas adequadas em cada nível de ensino, a meta de 80% de escolares decodificando no final do 2º ano será alcançada.